O Escolar
Vincent van Gogh, 1888, óleo sobre tela, 63,5 x 54 cm.
Museu de Arte de São Paulo, São Paulo/Brasil.
Também conhecida como “O filho do Carteiro”, Camille Roulin.
Informações na Wikipedia clicando aqui.
A arte acadêmica valorizava temas históricos, religiosos e mitológicos. A pintura nos gêneros de Paisagem e Retratos, quando retratava pessoas comuns, eram considerados gêneros inferiores. No século XIX, os pintores ligados ao Romantismo e ao Impressionismo recuperaram a paisagem como um gênero de pintura de primeira ordem. Por sua vez, Van Gogh trabalhou muito em retratos e auto-retratos. Produziu cerca de 40 auto-retratos - um número inferior apenas ao de Rembrandt. Realizou inúmeros retratos da família Roulin: o pai, O carteiro Roulin (1888); sua esposa, La Berceuse (1889); e O bebê Marcelle Roulin. O Escolar é o retrato de Camille Roulin, outro filho de seu amigo carteiro, pintado de memória.
Nesta pintura observa-se a busca expressionista do artista, empregando cores fortes e pinceladas bem marcadas, no lugar do uso de cores naturalistas. Van Gogh pintava como sentia aquilo que seus olhos enxergavam, e usava a cor para essa expressão - por isso a aparente forma arbitrária de sua colocação. O fundo vermelhão gera, com o azul claro e luminoso da blusa, uma carga intensa de vida na figura do menino. Mas seu olhar, dirigido para baixo, demonstra um certo acanhamento. Há uma tensão presente, criada pelo contraste entre a vivacidade das cores e uma certa tristeza presente em seu olhar, assim como entre a forte expressão da imagem da criança e o sentido romântico da infância, cuja simbologia está associada à inocência, à idéia de pureza, de natureza intocada. A dor que vemos dramatizada na representação deformada da mão do menino é tão intensa quanto aquela que as palavras de Van Gogh mostram que ele viveu. Em tal medida, impera aqui uma máxima artística: uma obra, de forma representativa ou não, é sempre um auto-retrato de seu autor.
Quando Van Gogh esteve internado em um hospício, em Saint-Rémy, as crises de alucinações às vezes chegavam em meio a sessões de pintura. Apesar de toda a dor que a consciência da doença lhe causava, o artista entendia que a pintura era o seu melhor remédio. O trabalho sempre o absorveu completamente e sua paixão interior encontrou na arte a válvula de descompressão, o que lhe permitiu seguir adiante. Ele era um apaixonado pela natureza e pela vida das pessoas simples. Num desses difíceis momentos, após superar uma das crises, escreveu a Théo: "Pois bem, sabe o que espero, uma vez que recomeço a ter esperanças? É que a família seja para você o que para mim é a natureza, os torrões de terra, a relva, o trigo amarelo, o camponês, ou seja, que você encontre em seu amor pelas pessoas motivo não só para trabalhar mas com que se consolar e reerguer-se, quando necessário".
Fonte: Casthalia
Leia mais sobre a obra na dissertação de Giovana Deliberali Maimone, “Estudo do tratamento informacional de imagens artístico-pictóricas: cenário paulista – análise e propostas” (PUC Campinas, 2007) da página 96 a 101, clicando aqui.
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