6. REFERENCIAL
TEÓRICO-METODOLÓGICO*
Assumir
a palavra é condição de cidadania. O domínio da linguagem, como atividade
discursiva e cognitiva, é condição de maior participação social. Pela linguagem
os indivíduos se comunicam, acessam à informação, defendem e partilham visões
de mundo, produzem cultura.
A
importância e o valor atribuídos aos usos da linguagem são determinados
historicamente, de acordo com as demandas sociais de cada momento. Hoje, os
níveis de leitura exigidos são bem diferentes dos que satisfizeram as demandas
sociais há poucos anos. Autores como Magda Soares (2001), estudiosos dedicados
à área do ensino da leitura e escrita, apontam para “a mudança na maneira de
considerar o significado do acesso à leitura e à escrita em nosso país – da
mera aquisição da ‘tecnologia’ do ler e do escrever à inserção nas práticas
sociais de leitura e escrita”. O que significa dizer que não basta saber ler e
escrever: é preciso fazer uso dessa tecnologia nas práticas sociais de leitura
e escrita[1]. Portanto, é
importante e necessário que se invista na formação de uma geração de leitores
para um mundo em permanente mudança, cada vez mais exigente quanto à qualidade
da leitura e da escrita.
Sendo
assim, no contexto atual das sociedades e culturas mundializadas, a interação
com as diversas linguagens não é apenas condição de comunicabilidade, mas
também de apropriação de conhecimento e, por conseguinte, de desenvolvimento
cognitivo; ganhando destaque, neste universo da comunicação, a linguagem falada
e escrita.
Apesar
de vivermos em um tempo de comunicação rápida, de profusão de imagens, de
linguagens sintéticas, de novas formas de organização de mensagens verbais e
não-verbais, o domínio da leitura e da escrita ainda se constitui em
necessidade, talvez uma das mais importantes na formação do ser humano. É na e
pela linguagem que o conhecimento acumulado pela humanidade se encontra
registrado. Sendo assim, o domínio das formas de comunicação – oral e escrita –
configura-se também como condição de exercício da cidadania, entendida, na
perspectiva de Benevides (1994: 7), como “aquela que institui o cidadão como
portador de direitos e deveres, mas essencialmente criador de direitos para
abrir novos espaços de participação política”. Cabe à escola fornecer ao
estudante os instrumentos necessários para que ele consiga buscar, selecionar,
relacionar e organizar as informações complexas do mundo contemporâneo.
Seu
papel, portanto, especialmente no ensino fundamental, é o de não apenas
introduzir o estudante no mundo da escrita, mas de torná-lo letrado[2], ou seja, “um
sujeito capaz de fazer uso da linguagem escrita para sua necessidade individual
de crescer cognitivamente e para atender às várias demandas de uma sociedade
que prestigia esse tipo de linguagem como um instrumento de comunicação” (KATO,
1987, p. 7).
Nesta
perspectiva, para Lerner (2002, p. 17), “ler e escrever... palavras familiares
para todos os educadores, palavras que marcaram e continuam marcando uma função
essencial – talvez a única função – da escolaridade obrigatória”.
Para
a autora, a escola, apesar de todas as dificuldades enfrentadas cotidianamente,
tem a grande responsabilidade de
incorporar todos os alunos à cultura
do escrito. [...] Participar da cultura escrita supõe apropriar-se de uma
tradição de leitura e escrita; supõe assumir uma herança cultural que envolve o
exercício de diversas operações com os textos e a colocação em ação de
conhecimentos sobre as relações entre os textos, entre eles e seus autores,
entre os próprios autores, entre os autores, os textos e seu contexto...
(LERNER, 2002, p. 17).
A
língua pode ser considerada como o principal instrumento de ensino e
aprendizagem de todas as disciplinas, pois a quase totalidade das atividades
tem como suporte o texto, quer enquanto objeto de leituras, quer enquanto
trabalho de produção. Nas práticas em sala de aula, observa-se que os alunos
leem textos relacionados às diferentes disciplinas do currículo para aprender
seus conteúdos, sem que, de maneira geral, alguém lhes tenha ensinado como
fazer isso. É comum à grande maioria dos professores pressupor que os alunos já
saibam ler, pois já estão alfabetizados, bastando, portanto, que se apropriem
dos conteúdos, tomando por princípio que os textos sejam autoexplicativos. Isto
se deve, em grande parte, à formação inicial dos professores das diferentes
áreas do conhecimento, excetuados os de Língua Portuguesa, que pouca ou nenhuma
relevância dão aos aspectos relacionados ao ensino da língua.
A
leitura do texto expositivo, por exemplo, um dos gêneros mais recorrentes nas
disciplinas de História, Geografia e Ciências, praticamente não é ensinada,
pois não é considerada por essas áreas como conteúdo de ensino.
Nossa
tradição escolar, que certamente remonta ao modelo de ensinar calcado pelos
jesuítas, no conhecido método de Ratio Studiorum[3], nos deixa como
herança um ensino centrado em aulas expositivas, o que, certamente, não seria o
mais adequado se pensarmos a sala de aula como espaço de formação de leitores e
escritores. Além disso, a leitura de textos, quando é feita em sala de aula,
normalmente é baseada em comandos gerais de compreensão do texto, como se este
processo fosse algo intuitivo e espontâneo. Os procedimentos que envolvem a
compreensão de textos são reduzidos a clichês - do tipo: “O que você achou do
texto?”; “Qual a mensagem do autor?”; “Retire as informações principais.”;
“Qual o assunto do texto?” -, aplicados a diferentes textos, sem que o
professor perceba a necessidade e possibilidade de sistematização dos processos
que envolvem o ato de ler, ou que justamente as especificidades de cada texto,
os gêneros[4], requerem
estratégias diferenciadas para seu entendimento e, por conseguinte, para o
entendimento do conteúdo que desejam ensinar.
Neste
processo, o professor, muitas vezes, acaba desconsiderando o fato de que uma
leitura implica mobilizar conhecimentos prévios, retroceder para avançar,
reconhecer códigos e imagens, criar hipóteses, refutar ou confirmar
antecipações, levantar dados, associar informações presentes em diferentes
pontos do texto, estabelecer relações, contextualizar, produzir deduções e
inferências, desvelar aquilo que está implícito, posicionar-se, reelaborar e/ou
reordenar o que foi lido.
Outro
aspecto fundamental, que nos parece secundarizado em muitas práticas
pedagógicas envolvendo o ensino da leitura, diz respeito à clareza de seus
objetivos. Para Isabel Solé,
sempre deve existir um objetivo para
guiar a leitura. (...) O leque de objetivos e finalidades que faz com que o
leitor se situe perante um texto é amplo e variado: devanear, preencher um
momento de lazer e desfrutar; procurar uma informação concreta; seguir uma
pauta ou instruções para realizar determinada atividade (...); informar-se
sobre um determinado fato (...); confirmar ou refutar um conhecimento prévio;
(...). Uma nova implicação derivada da anterior é que a interpretação que nós
leitores, realizamos dos textos que lemos depende em grande parte do objetivo
da nossa leitura. Isto é, ainda que o conteúdo de um texto permaneça
invariável, é possível que dois leitores com finalidades diferentes extraiam
informação distinta do mesmo. Assim, os objetivos da leitura são elementos que
devem ser levados em conta quando se trata de ensinar as crianças a ler e a
compreender (SOLÉ, 1998, p. 22).
Estudar
o tema da leitura implica destacar questões como: o que é ler, para que ler,
como ensinar a ler e a quem compete essa tarefa. As respostas a essas questões
orientam nossa concepção de ensino.
Quando
falamos em leitura tomamos como referência a concepção bakhtiniana, que
considera a leitura como uma atividade interativa altamente complexa de
produção de sentidos, que se realiza com base nos elementos linguísticos
presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a
mobilização de um vasto conjunto de saberes. Essa concepção põe em foco o leitor
e seus conhecimentos em interação com o autor e o texto para a construção do
sentido. Nessa perspectiva o leitor, como sujeito ativo na construção do
sentido do texto, lança mão de uma série de estratégias como seleção,
formulação de hipóteses, inferências, verificação, por meio das quais realiza o
processamento do texto. Para Mikhail Bakhtin,
toda
compreensão da fala viva, do enunciado vivo é de natureza ativamente responsiva
(embora o grau desse ativismo seja bastante diverso); toda compreensão é prenhe
de resposta, e nessa ou naquela forma a gera obrigatoriamente: o ouvinte se
torna falante (BAKHTIN, 1997, p.271).
Assim,
pensar a leitura e a escrita como atividades interativas indica que nossas
concepções sobre os objetos e métodos de ensino precisam ser revistas, no
sentido de implementar uma outra prática pedagógica capaz de atribuir sentido
aos processos de ensinar e aprender como atividade essencialmente humana.
Posto
que a realização dos propósitos educativos depende invariavelmente de um grau
importante do domínio do código linguístico escrito e do desenvolvimento dos
processos mentais que se encontram em sua base, acreditamos não ser possível
pensar em mudanças no ensino da leitura e da escrita sem estender tal
problemática a todas as áreas do conhecimento, em uma perspectiva
interdisciplinar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) fazem referência
a essa perspectiva:
A língua, sistema de representação do
mundo, está presente em todas as áreas do conhecimento. A tarefa de formar
leitores e usuários competentes da escrita não se restringe, portanto, à área
de Língua Portuguesa, já que todo professor depende da linguagem para
desenvolver os aspectos conceituais de sua disciplina (BRASIL, 1998, p. 31).
Nesse
contexto, a idéia de que expressar-se com propriedade é “coisa para a aula de
língua portuguesa”, enquanto as demais disciplinas se preocupam com os
“conteúdos específicos”, não se sustenta. Sendo a língua o principal
instrumento de ensino e de aprendizagem na escola, a tarefa de formar leitores
e usuários competentes da escrita não pode estar restrita à disciplina de
Língua Portuguesa, já que todo professor depende da linguagem para desenvolver
os aspectos conceituais de sua disciplina. Pela linguagem, os indivíduos se
comunicam, acessam as informações, defendem e partilham visões de mundo,
produzem cultura.
Disto
decorre que um programa de formação de professores passa necessariamente por
sua formação como utilizadores proficientes da língua, devendo-se, ao mesmo
tempo, propiciar a eles os meios necessários à apropriação de saberes que
conduzam a uma inovação didática. É preciso exercitar uma nova didática que
cumpra a função primordial da escola, que é a de favorecer a autonomia e a
descoberta de ser leitor nas múltiplas faces da língua, nas diversas
disciplinas que compõem o currículo escolar. É fundamental inserir todos os
grupos sociais nas práticas de uso da leitura e da escrita, a fim de que se
tornem usuários e críticos dessas práticas. E esta não é apenas uma opção
técnica em busca da competência contra o fracasso na escola; é, sobretudo, uma
opção política pela formação/inclusão de todos.
Uma
formação de professores praticantes de leitura e escrita, capazes de evidenciar
perante as crianças o comportamento leitor e escrevente, é uma das condições
para mudarmos os preocupantes indicadores de desempenho escolar, pois a ninguém
é dado o “dom” de ensinar aquilo que não sabe.
Diante
desse desafio, a Escola Básica Municipal Beatriz de Souza Brito, pertencente à
Rede Municipal de Ensino de Florianópolis, vem desenvolvendo, há quase uma
década, o curso de formação continuada “Ler e escrever: compromisso da escola,
compromisso de todas as áreas”, envolvendo os professores de todas as
séries/anos e de todas as disciplinas do ensino fundamental.
Os
estudos e debates realizados ao longo deste processo de formação continuada em
torno do ensino e da aprendizagem da leitura e da escrita foram se constituindo
como referencial teórico e metodológico para a discussão e elaboração da proposta
pedagógica da Escola.
A
partir desse referencial teórico e dessa experiência sobre os limites e as
possibilidades das novas práticas pedagógicas gestadas ao longo desses anos, é
que a Escola tem focado suas discussões sobre o currículo. Superar a visão
pautada na crença de que aos anos iniciais cabe ensinar a ler e escrever e aos
anos finais, os conteúdos específicos, é defender a apropriação da leitura e da
escrita nas suas dimensões histórica e cultural para todas as áreas do
currículo escolar. Este tem sido um grande desafio para o coletivo desta
Escola.
6.1 Formação Continuada
Desde
2004, o tempo destinado as reuniões pedagógicas no calendário da Escola Beatriz
é utilizado para a implementação do Curso de Formação “Ler e escrever:
compromisso da escola, compromisso de todas as áreas”. O Curso é constituído de
dois módulos: um de Língua Portuguesa, destinado a todos os professores do 1º
ano a 8ª série e um, de Matemática, destinado prioritariamente aos professores
dos anos iniciais. O módulo de Língua Portuguesa é ministrado pela Professora
Terezinha Costa Hashimoto Bertin e o de Matemática pela Professora Regina Célia
Santiago, ambas consultoras da Editora Ática.
Tanto
o módulo de Língua Portuguesa quanto o de Matemática são organizados em duas
etapas: dois dias no primeiro semestre letivo e dois dias no segundo semestre,
totalizando 50 horas de formação por ano para cada módulo. Dessas, 32 horas são
presenciais e 18 horas não presenciais, sendo destinadas a leitura/estudo dos
participantes e a implementação de práticas pedagógicas inovadoras. Na segunda
etapa do Curso, os professores apresentam sequências didáticas que tenham sido
desenvolvidas com uma ou mais turmas e que tenham relação com a temática
discutida naquele ano. A análise dessa apresentação se constitui em um
importante momento de reflexão e de avaliação do próprio processo de formação
do professor e do grupo.
Módulo de Língua
Portuguesa
De
2004 a 2008, os professores dos anos iniciais e finais participavam do mesmo
processo de formação, pois era preciso consolidar a concepção de que a formação
de leitores e usuários competentes da escrita é uma tarefa de todos e não
apenas do professor de Língua Portuguesa.
Conteúdos
trabalhados ao longo desse período: níveis de leitura ou etapas de apropriação
de um texto verbal ou não verbal: compreensão imediata, interpretação e
extrapolação; definição de gênero e as implicações pedagógicas no trabalho com
gêneros do discurso; esfera de comunicação: tema, intenção, circunstância
comunicativa, contexto, gênero e escolhas linguísticas; proposta de
agrupamentos de gêneros orais e escritos de Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz:
narrar, relatar, argumentar, expor e instruir; estratégias de leitura adequadas
aos gêneros; a mediação do professor como uma intervenção planejada e
qualificada; a leitura como construção de sentido; fatores de compreensão da
leitura; a leitura como metacompetência e objeto de ensino de todas as áreas do
conhecimento; concepção de currículo; eixos articuladores do currículo; o
conteúdo curricular nas três dimensões: conceitual, procedimental e atitudinal
(César Coll); o papel dos gêneros na formação do leitor proficiente; definição
de uma proposta de gêneros textuais: um desafio para a Escola Beatriz; a
leitura como um dos eixos de articulação do currículo.
De
2009 a 2012, para dar conta da especificidade dos anos iniciais e dos anos
finais – uma necessidade que surgiu durante o próprio processo de formação – o
Curso foi separado em dois momentos: um destinado aos professores dos anos iniciais
e um aos professores dos anos finais.
Conteúdos
trabalhados nos anos iniciais: concepção e ensino da língua; alfabetização e
letramento; apropriação do sistema de escrita alfabético; eixos necessários à
aquisição da língua escrita: compreensão e valorização da cultura escrita,
apropriação do sistema de escrita, leitura, produção de textos escritos,
desenvolvimento da oralidade (pró-letramento); conteúdos conceituais,
procedimentais e atitudinais: primeiras aproximações; as habilidades de leitura
exigidas na Prova Brasil de Língua Portuguesa de 4ª série/5º ano: conhecendo os
descritores; alfabetizar letrando: um desafio para os anos iniciais; domínio da
base alfabética; ortografia: dedução de regras a partir da compreensão das
regularidades da escrita; momentos da narrativa: situação inicial, conflito ou
complicação, clímax do conflito, desfecho; elementos da narrativa: personagens,
tempo, espaço, ação ou enredo; condições de produção de um texto: o quê, por
quê, para quê, para quem, com que intenção, em qual circunstância, onde
circulará o texto, que escolhas de linguagem; aspectos lingüísticos do texto:
convenções da escrita, uso da letra maiúscula, uso do parágrafo, pontuação
final e intermediária, uso do tempo verbal, elementos de coesão.
Conteúdos
trabalhados nos anos finais: conteúdos conceituais: fatos e conceitos; a
aprendizagem, o ensino e a avaliação de fatos e conceitos; aprendizagem
memorística e aprendizagem significativa; a importância da mobilização dos
conhecimentos prévios para a aprendizagem significativa; a necessidade de
sequências didáticas para o ensino dos conteúdos; eixos articuladores do
currículo; conteúdos conceituais e procedimentais: uma articulação necessária;
os conteúdos procedimentais específicos às diferentes áreas do conhecimento;
conteúdos procedimentais comuns a todas as áreas; procedimentos comuns de
leitura e produção escrita: resumo e mapa conceitual; aprender a ler e ler para
aprender; a leitura como conteúdo de ensino em todas as áreas do conhecimento;
a importância dos objetivos da leitura; os textos do livro didático e os
objetivos da leitura: uma articulação necessária; a leitura compartilhada;
momentos da sequência didática: antecipação/mobilização de conhecimentos
prévios, problematização, construção, sistematização, consolidação e avaliação.
Módulo de Matemática
Conteúdos
trabalhados ao longo desse período: o sistema de numeração decimal: um pouco da
história; conceitos matemáticos fundamentais para o ensino nas séries iniciais;
formulação e resolução de problemas; a importância do trabalho com estatística, probabilidade, possibilidade,
estimativas, arredondamentos e cálculo mental; a avaliação em matemática; a
linguagem matemática como comunicação; o valor da decomposição no processo de
compreensão do sistema de numeração decimal; por que trabalhar com algoritmo
não convencional nas séries iniciais?; a importância do cálculo mental; o que
significa ser numeralizado; espaço e forma: a importância da geometria no
aprendizado da matemática; números fracionários e decimais – idéia de
porcentagem; a importância da percepção geométrica no aprendizado do ler e
escrever; o campo conceitual do pensamento geométrico: espaço, forma, grandezas
e medidas; os principais conceitos a serem abordados no eixo de conteúdo – grandezas
e medidas: a grandeza a ser medida, o instrumento de medida, a unidade de
medida; interpretação e resolução de situações-problema envolvendo os quatro
eixos de conteúdo; análise das questões da Prova Floripa de Matemática – 2007;
o sistema de numeração: base dez e valor posicional; análise das notações espontâneas
da criança no processo de apropriação do sistema de numeração; a complexidade
do processo de apropriação dos números escritos; as vírgulas e pontos nos
números; as notações de frações no contexto de problemas algébricos; figuras
geométricas bidimensionais e tridimensionais: semelhanças e diferenças;
principais poliedros: prismas e pirâmides; elementos de um poliedro: vértices,
faces e arestas; planificações dos sólidos geométricos; localização e
movimentação de um objeto no espaço; ampliação e redução de figuras planas pelo
uso de malha quadriculada; diferentes
formas de resolver problemas; problemas e contas: dois desafios diferentes; a
resolução de problemas; a teoria das situações didáticas; os campos conceituais
de Gerard Vergnaud; características do sistema de numeração decimal; a
importância da decomposição no processo de compreensão do sistema de numeração
decimal; formular e resolver problemas: uma prática pedagógica fundamental; diferentes
estratégias de resolução de problemas.
A
cada ano de formação é produzido um relatório final contendo: projeto,
descrição das atividades realizadas, fotos do curso, ata das duas etapas,
avaliação dos participantes, lista de presença e documentação necessária para
emissão dos certificados. O processo de elaboração das atas é extremamente
moroso, pois envolve um trabalho inicial, feito por profissional da própria
Escola, de transcrição das filmagens do Curso. As atas elaboradas são impressas
e entregues a todos os cursistas. Essa é uma das formas encontrada pela Escola
de materializar as discussões e os estudos realizados e, ao mesmo tempo, de garantir
que os professores contratados em caráter temporário acompanhem o processo de
formação.
O
Curso é filmado pela Escola e o material audiovisual encontra-se disponível
para consulta dos professores.
Os
recursos financeiros necessários para a viabilização desse Projeto são disponibilizados
pela Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, pela Editora Ática e
pela Associação de Pais e Professores da Escola Beatriz.
7. ORGANIZAÇÃO
CURRICULAR
A
trajetória de formação desenvolvida na Escola Beatriz, desde 2004, embora
encontre na rotatividade dos professores um obstáculo permanente, nos permite
afirmar que a concepção de que o ensino da leitura e da escrita é um
compromisso de todas as áreas do conhecimento está consolidada em nosso projeto
político-pedagógico.
A
partir dessa premissa foi possível a definição de eixos de articulação do nosso
currículo e de conteúdos procedimentais comuns a todas as áreas do
conhecimento.
Eixos de articulação do
currículo
Interdisciplinaridade
Leitura
e escrita como compromisso de todas as áreas
Compromisso
com o letramento
Contextualização
dos conteúdos das diversas áreas de ensino
Leitura
de textos em linguagem verbal e não-verbal: domínio de formas, códigos e
convenções dos diversos sistemas de representação
Leitura
como conteúdo de ensino:
sistematização
de processos e estratégias de leitura;
sistematização
de níveis de proficiência em leitura (compreensão imediata, interpretação e
extrapolação).
Formulação
de estratégias de leitura para a compreensão de textos específicos das áreas de
estudo, envolvendo:
dedução
de significados a partir do contexto;
seleção
de informações relevantes.
Acesso
a informações relativas à área do conhecimento de cada disciplina;
Ordenação
e sistematização de conhecimentos e informações:
transpor
da oralidade para a escrita;
registrar
o que foi estudado ou observado;
anotar
termos-chave a partir de algo ouvido, lido ou assistido.
Conteúdos procedimentais
comuns a todas as áreas
Ler
e interpretar textos verbais e não-verbais:
localizar
informações e levantar dados do texto;
fazer
inferências a partir dos dados do texto;
contextualizar
as informações do texto;
estabelecer
relações entre as informações do texto;
intertextualidade:
estabelecer relações entre o texto e outros textos;
extrapolar
sentidos em relação ao texto lido;
deduzir
sentidos de termos ou palavras do texto;
identificar,
reconhecer ou perceber os efeitos de sentido produzidos pelas escolhas de
linguagem.
Produzir
textos verbais e não-verbais em todas as áreas
Reelaborar
ou reescrever textos para aperfeiçoá-los e/ou adequá-los aos seus propósitos
Perceber-se,
situar-se em relação a um espaço e tempo
Desenvolver
mecanismos de organização e apropriação de conhecimento: selecionar
relevâncias; identificar fatos, dados, conceitos; sintetizar; resumir;
construir esquemas, mapas conceituais, formas de representar o conteúdo
estudado
Utilizar
instrumentos de observação e medida
Estabelecer
relações entre teoria e prática
Apresentar
oralmente textos formais
Produzir
inferências e conclusões a partir de regularidades observadas
Saber
buscar, selecionar e registrar informações para uma pesquisa
Ordenar
fatos, dados, observações
Representar
em linguagem verbal e não-verbal fatos e dados
Estabelecer
relações contextuais entre o objeto estudado e outros dados
Comparar
para estabelecer semelhanças e diferenças
Propor
e aplicar estratégias para a resolução de problemas
Posicionar-se
frente a fatos, dados, ideias e construir argumentação para sustentar a posição
assumida
Neste
sentido, o desafio posto para a Escola Beatriz, desde 2011, tem sido a
sistematização e a construção de um currículo que de fato expresse o
compromisso de todas as áreas do conhecimento com a leitura e a escrita. Esse
desafio está expresso nas metas definidas pela Escola para a atual gestão
2011/2013, quais sejam: ** professores de todas as disciplinas envolvidos com a
tarefa de formar leitores e usuários competentes da escrita; ** currículo da
Escola Beatriz definido em torno do eixo – ler e escrever: compromisso da
escola, compromisso de todas as áreas; ** espaço escolar reestruturado em
função do currículo.
[1]
De acordo com Magda Soares “a alfabetização é um componente do letramento, mas
é preciso distinguir claramente o que é alfabetização – a aquisição do sistema
de escrita, a aquisição da tecnologia da escrita – do que é letramento – o uso
dessa tecnologia, o exercício das práticas sociais de leitura e de escrita.
(...) Usando um verbo que ainda não está dicionarizado, eu diria que devemos
alfabetizar letrando: ensinar a ler e a escrever por meio de práticas sociais
reais de leitura e de escrita.” (SOARES, 2004, p. 7)
[2]
“Com o surgimento dos termos letramento
e alfabetização (ou alfabetismo)
funcional, muitos pesquisadores passaram a preferir distinguir
alfabetização e letramento. Passaram a utilizar o termo alfabetização em seu sentido restrito, para designar o aprendizado
inicial da leitura e da escrita, da natureza e do funcionamento do sistema de
escrita. Passaram, correspondentemente, a reservar os termos letramento ou, em alguns casos, alfabetismo funcional, para designar os
usos (e as competências de uso) da língua escrita.” (Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2008. Pró-letramento: Programa de Formação
Continuada de Professores dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental:
alfabetização e linguagem. Brasília – DF, p. 10).
[3] Ver a este respeito:
CHATEAU, Jean. La Pedagogia de los
Jesuítas. México, Fundo Econômico de Cultura, 1992.
[4]
“Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão
sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o
caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas
da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A
utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos),
concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da
atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades
de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo
verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos
lexicais, fraseológicos e gramaticais –, mas também, e sobretudo, por sua
construção composicional. Esses três elementos (conteúdo temático, estilo e
construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e
todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação.
Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada
esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de
enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso.” (BAKHTIN, 1997, p.
279)
.............................................
* Do Projeto Político-Pedagógico da Escola (Em discussão)
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO_ 2015
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO_ 2015
O PPP foi um documento escrito por muitas mãos e pensado ao longo de toda a trajetória da Escola Beatriz de Souza Brito, onde muitos fizeram parte. O PPP- Projeto Político Pedagógico 2015 foi apresentado aos profissionais da Escola com a proposta de discutir alguns itens do documento a fim de definir algumas metas e reforçar as práticas pedagógicas do cotidiano escolar. Dentre eles, as regras gerais e rotinas da Escola, avaliações e seus métodos e o conselho de classe pensando no sucesso da Criança/ Adolescente.
Acesse: projeto-politico-pedagógico-2015
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