Foto: Alvarélio Kurossu/Agencia RBS
Professores com doutorado são minoria em sala de aula no ensino fundamental
SC tem 42 professores doutores nessa etapa de aprendizado, o que representa 0,1% do total
Por Júlia Antônio Lourenço
Diário Catarinense
06/11/12
Pedro Cabral Junior tem 51 anos e metade deste tempo passou em sala de aula. Depois de 25 anos estudando, é dono do título de doutor. Todo o conhecimento adquirido repassa para seus alunos da educação básica. Como ele, há outros 41 professores doutores em Santa Catarina no ensino fundamental — o que representa 0,1% dos 41.787 profissionais.
Pedro Cabral Junior tem 51 anos e metade deste tempo passou em sala de aula. Depois de 25 anos estudando, é dono do título de doutor. Todo o conhecimento adquirido repassa para seus alunos da educação básica. Como ele, há outros 41 professores doutores em Santa Catarina no ensino fundamental — o que representa 0,1% dos 41.787 profissionais.
No
Brasil, o percentual é ainda menor: 0,08% de 1.389.706 professores de ensino
fundamental tem doutorado. Os dados são do Ministério da Educação, referentes a
2011. O Estado com mais doutores é o Rio de Janeiro, com índice de 0,3%.
Baixos
salários e até mesmo um entendimento de que lugar de doutor é na universidade
levam educadores a deixarem as escolas básicas. Cabral Júnior pensa diferente.
A caminho de um pós-doutorado, o professor de artes, de 5º a 9º ano, do colégio
municipal Beatriz de Souza Brito, em Florianópolis, nunca cogitou sair da
escola.
—
Aqui é onde eu consigo atingir as coisas que eu acredito com mais intensidade.
A revolução que a gente tanto prega é feita no teu espaço de trabalho e na
base. É onde eu escolhi estar e ser feliz. Sou professor por opção, e eu gosto
de estar aqui. Me divirto em sala de aula — afirma.
Cabral
acredita que a escola é onde começa a construção do conhecimento, das ideias e
dos valores. Além de estar no lugar que escolheu, ele também diz que o salário
está dentro do que considera justo para um professor com doutorado, levando em
conta seus 28 anos de serviços na rede municipal.
Para
professor, estudar e voltar pra escola é ótimo
Cabral
acredita que há poucos doutores no ensino fundamental por uma ideia de que ter
doutorado e dar aula para crianças é muito pouco. Quando fala que tem doutorado,
as pessoas perguntam em qual universidade ele trabalha.
—
O status te impõe e obriga que seja professor universitário e até existe uma
desconfiança das pessoas que pensam que não estou na universidade porque não
passei em concurso — observa Cabral, que já deu aula em universidade.
Apesar
de serem poucos os doutores no ensino fundamental, ele acredita que a
especialização faz bastante diferença em seu trabalho.
—
Quando voltei do doutorado, eu brincava: vocês não notaram como eu estou
diferente, como estou melhor? Sair do dia-a-dia e ir para os bancos escolares,
estudar e depois voltar para o espaço de onde saiu é ótimo. Ver que existe
outras possibilidade de fazer diferente. O dia-a-dia nos cega, impede até às
vezes que a gente leia e estude. Mas a saída te dá esse refresco — finaliza.
"Não
se muda o chão da escola estando longe dele", diz estudioso
Professores
com doutorado são fundamentais para qualquer nível e modalidade de ensino. É
esta a opinião do professor da Universidade do Estado de Santa Catarina e
presidente do conselho municipal de educação de Florianópolis, Lourival José
Martins Filho, que também integra o comitê de educação do DC. Para ele, não se
muda o chão da escola estando longe dele.
—
Que bom seria se da educação infantil, desde a creche, até a educação de jovens
e adultos contássemos com a presença de professores doutores pesquisadores com
a dignidade profissional e salarial reconhecida — ressalta.
O
salário baixo leva muitos professores escolherem o ensino superior, mas não é o
único motivo. Um outro seria a questão cultural, de associar o doutor às
universidades e aos institutos de pesquisa.
—
Existe um preconceito entre os próprios docentes. Alguns afirmam "fulano
tem mestrado ou doutorado e está trabalhando com crianças pequenas ou está
alfabetizando ou está na coordenação pedagógica". Seria maravilhoso se
doutores fossem reconhecidos em todas as etapas da educação.
Martins
acrescenta que a própria educação básica brasileira não está preparada para a
escola ser um laboratório de aprendizagem. Cada colégio deveria ter professores
efetivos com dedicação exclusiva para serem pesquisadores dos problemas
cotidianos.
Ele
argumenta que a solução dos conflitos da escola não está fora dela. São os
próprios docentes que podem construir novas alternativas.
Reproduzido
de Diário
Catarinense
06
nov 2012
Vídeo em 25/10/12.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por deixar seu comentário.